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Pantera Negra é um filme histórico por muitas razões. É a primeira produção dos estúdios Marvel com um super-herói negro (o rei T’Challa/Pantera Negra, vivido por Chadwick Boseman) e dirigida por um negro, Ryan Coogler (de Fruitvale Station – A Última Parada), com um elenco majoritariamente negro (à exceção de Martin Freeman e Andy Serkis), celebrando a cultura africana em figurinos e cenários. Wakanda pode ser um país fictício e futurista, mas suas raízes estão bem fincadas nas tradições do continente.
Além disso, é um longa-metragem em que as mulheres, normalmente relegadas a segundo plano nas adaptações de quadrinhos, ganham tanto destaque quanto os homens. Lupita N’yongo, vencedora do Oscar por 12 Anos de Escravidão, é a espiã Nakia, Danai Gurira (The Walking Dead) vive a general Okoye, líder do grupo de soldadas que protege o reino, Letitia Wright faz Shuri, a princesa adolescente que é um gênio da tecnologia, e Angela Bassett interpreta a rainha-mãe Ramonda.
Criada no Quênia e apoiadora de movimentos feministas como #MeToo e Time’s Up, Lupita N’yongo sabe da importância de Pantera Negra, e também da existência de racismo no Brasil, o que lamenta em entrevista a VEJA:
Sua personagem é uma espiã. Qual a coisa de que mais gosta nela? Amei o fato de ela ser uma mulher independente, loba solitária e ainda assim leal a seu país. Ela tem esse senso profundo de responsabilidade com sua nação e luta pelo que acredita. Tem um poder silencioso, como espiã tem de ser camaleão-fêmea e passar despercebida. E isso foi legal de ver, especialmente no contexto das outras mulheres em Pantera Negra, por exemplo a general Okoye, que é mais durona. Shuri é brincalhona, tem a mente como arma. E a rainha (Angela Bassett), que é o legado de Wakanda. Foi maravilhoso ver as cores do poder, como elas se complementam e como apoiam um rei que precisa descobrir o caminho para a sua nação.
Teve de fazer um treinamento especial? Ah, sim. Fiz preparação física por uns quatro meses. Depois, fomos para um treinamento de seis semanas em que nos reunimos com a equipe de dublês e das cenas de ação. Eles nos ensinaram tudo o que precisávamos saber, tanto as nossas habilidades individuais como o trabalho em grupo. Nakia é descrita como uma agente secreta que conhece o mundo. Ryan a descreveu como “street”, uma garota que usa os meios que tem à disposição. Pode ser uma garrafa. Então, eu precisava ter essa versatilidade, saber tanto usar armas de fogo e conhecer suas características lâminas circulares, mas também copos e tal. Isso foi bem divertido e difícil.
O filme mostra a cultura africana de maneira positiva. Acha que num momento em que o presidente dos Estados Unidos chama os africanos de “países de m…” isso ganha ainda mais relevância? Como africana, sempre soube que o continente tem muito a oferecer. Sempre tive orgulho das minhas origens. É muito bacana ter um filme que enxerga isso. A hora de tratar a África com respeito foram e são todas. É sempre. Porque realmente somos um continente incrivelmente rico, de muita diversidade e bastante intrincado, e esse filme mostra isso. Embora Wakanda seja uma nação africana fictícia, sua estética, sua identidade, suas culturas derivam de países africanos. Espero que o filme demonstre isso e deixe as pessoas curiosas sobre essa diversidade cultural — e também com mais respeito por ela, com certeza.
O filme discute a importância da representação, as diferentes identidades existentes. E isso num momento em que os movimentos de empoderamento feminino estão com toda a força. Como acha que Pantera Negra se encaixa nessa discussão? O cinema tem esse potencial de nos mostrar quem fomos um dia, quem somos agora e quem podemos nos tornar. Wakanda é quem podemos nos tornar. Porque é um país autodeterminado, uma nação africana isolada, protegida do ataque que foi o colonialismo, uma nação que pôde evoluir sob seus próprios termos. Vemos que isso criou uma sociedade em que as mulheres têm permissão de desenvolver seu potencial pleno. Elas podem exercer seu poder ao lado dos homens, e esse poder não os diminui. Ambos podem ser poderosos ao mesmo tempo, tudo bem. E as mulheres são diferentes, então elas têm poderes distintos. Shuri é a chefe da tecnologia. Ela é inteligente e tem só 16 anos, e seu irmão, o rei, a convoca quando precisa de algo relacionado à tecnologia. T’Challa dá espaço a ela para liderar nessa área. Nakia, minha personagem, é uma espiã. Sua responsabilidade é informar Wakanda sobre o que se passa no mundo. E o rei T’Challa recorre a ela quando precisa tomar decisões, porque ela vê as coisas de maneira diferente, e os dois discutem. No fim, eles querem o melhor para seu povo. É uma imagem poderosa e idílica de se ter e de buscar.
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