Produtos que toda cacheada deve ter para ter o cabelo saudável!

Bruno Dantte, cabeleireiro especializado em cachos e crespos, fala da importância de saber cuidar dos fios: 'O cabelo natural é incomparável e vale a pena lutar por ele'

Bruno Dantte diz que o corte de cabelo vai de acordo com a momento da pessoa, se ela se sente bem ao se olhar no espelho

A transição capilar é um período cheio de descobertas. No entanto, apesar de o movimento de aceitação do cabelo natural ser cada vez mais forte, poucos são os profissionais e os espaços que sabem como lidar - e cuidar - dos cachos. Um deles é o cabeleireiro Bruno Dantte, especializado em cabelos cacheados e crespos, com formação em Nova York e um salão muito charmoso no shopping Downtown, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Em entrevista ao Fique Diva, o profissional contou um pouco sobre a sua trajetória profissional e deu várias dicas para nossas leitoras. Confira!

FIQUE DIVA: COMO SURGIU A SUA PAIXÃO POR CABELOS E O QUE TE MOTIVOU A SE TORNAR CABELEIREIRO?

Bruno: Sou de uma família de cabeleireiros e praticamente cresci no salão.. Foi algo natural, apesar de eu ter sido resistente no início. Me formei em administração, virei músico, mas o cabelo nunca deixou de fazer parte de mim - e isso já tem 16 anos.

Fiz o curso de cabeleireiro tradicional, só que, há 8 anos, comecei a ter contato com o universo do cabelo natural. Nunca gostei de alisamentos e não gostava nem fazer escova normal. Então, quando descobri essa nova forma de cuidar dos cabelos, resolvi entrar de cabeça. O problema é que aqui não existia curso e precisei pesquisar, treinar e desenvolver sozinho. Até hoje ainda é bem precário, não se explica como cortar, lavar, finalizar, colorir um cabelo natural. Por isso, me especializei fora, em Nova York.

FD: E COMO FOI “NADAR CONTRA A MARÉ”, JÁ QUE HÁ 8 ANOS ATRÁS NÃO SE FALAVA EM CABELO NATURAL COMO SE FALA ATUALMENTE?

Bruno: Foi bem difícil, porque não tinha referência, não tinha produto específico, não dava lucro. A clientes não queriam um cabelo natural, mas, ao mesmo tempo, eu me sentia meio inútil se a pessoa não quisesse fazer uma escova. Eu pensava “o que eu vou fazer no cabelo dela?”, então comecei a aprender.

Hoje tenho minha técnica, que é uma mistura do que aprendi quando me especializei no exterior com métodos que desenvolvi e testei sozinho. Aliás, eu gosto muito de testar coisas, de ver o que funciona e aquilo que não dá certo.

FD: E QUANDO VOCÊ VOLTOU DE NOVA YORK, TRABALHOU EM OUTROS LUGARES ANTES OU ABRIU SEU SALÃO?

Bruno: Apesar de ser carioca, eu trabalhei em São Paulo primeiro antes de abrir meu salão. Como ainda estava estudando, decidi me formar para só depois ter o meu negócio. Mas foi difícil sair de São Paulo, porque tinha minhas clientes e já trabalhava apenas com cabelos naturais. Só que lá tem mais opções para as cacheadas e crespas, enquanto o Rio não tinha nada.

Como eu tinha vontade de voltar, sabendo que as cariocas estavam sem opções, decidi montar meu espaço na cidade. Mantenho o atendimento em São Paulo apenas uma vez por mês, mas é complicado agendar todo mundo.

FD: O SALÃO BRUNO DANTTE CONCEITO É TODO DECORADO COM PALAVRAS DE EMPODERAMENTO E MUITA GENTE QUER ASSUMIR OS CABELOS NATURAIS. QUAIS SÃO OS SERVIÇOS DO ESPAÇO? O QUE AS MULHERES MAIS GOSTAM? FAZ BIG CHOP?

Bruno: Eu queria que o salão tivesse uma atmosfera para o cabelo natural, que refletisse esse momento que estamos vivendo e que as clientes se sentissem em casa. Que elas não se preocupassem se alguém vai alisar ou alterar o que ela gosta, até porque, é como sempre digo para minha equipe, quem determina o serviço é a cliente. O poder de decisão é dela. E o empoderamento é isso: dar voz a quem está falando.

Como era uma coisa nova aqui no Rio, também não queria que o salão fosse algo gigantesco, até porque a agenda é minha e ensino outros profissionais. Oferecemos a maioria dos serviços que os salões oferecem: temos os cortes - e, dentro deles, o big chop, se a cliente optar por isso-, colorações, mechas, hidratação, nutrição, reconstrução e estamos preparando profissionais para fazer penteados também.

E não vendemos serviço. Muita gente vem aqui achando que o cabelo precisa de mil tratamentos e cortes, mas basta uma hidratação para os fios ficarem maravilhosos, não precisa pintar, cortar nem nada. Respeitamos o cabelo em primeiro lugar.

FD: PARA AS MENINAS QUE ESTÃO EM TRANSIÇÃO CAPILAR, VOCÊ TAMBÉM ATENDE QUEM ESTÁ COM DUAS TEXTURAS?
Bruno: Nem todo mundo tem coragem de fazer o big chop, a maioria está em transição aos poucos. Por isso, um dos nossos principais serviços é ensinar. Como cuidar do cabelo natural, como lavar, condicionar, finalizar, secar… Nesse período de transição, em que o alisado está saindo, é a fase em que a menina precisa saber cuidar dos fios, senão ela não vai gostar do próprio cabelo.

Além do atendimento no salão, também temos uma equipe especializada para responder as dúvidas nas redes sociais. Muita gente nunca soube na vida como é ter o cabelo natural - e isso é muito louco.

FD: E A TRANSIÇÃO NO CABELO CRESPO, TIPO 4? ELA É MAIS DIFÍCIL DO QUE AS OUTRAS?

Bruno: Quem tem cabelo tipo 4 é quem menos faz transição. E não é só porque a pessoa tem dificuldade de lidar com o cabelo natural. É também difícil encarar a forma como os outros lidam com ele. Tem a questão do racismo, dos julgamentos, até mesmo problemas no trabalho.

Além disso, o cabelo tipo 4 é o que mais sofre com a química. É o que mais quebra, resseca, o que dá mais diferença. Um cabelo cacheado pode ficar ondulado ao alisar. Mas do liso para o crespo é uma diferença muito grande. A transição do crespo é o big chop direto, não dá para levar aos poucos.

E quero falar uma coisa: todo cabelo cacheia, até mesmo o 4C! Ele não precisa ser só black power, se você não quiser. O crespo pode ter definição também. O black é lindo, mas existem outras formas de lidar com os fios crespos também.

FD: EXPLICA UM POUCO PARA GENTE A DIFERENÇA ENTRE DEFINIÇÃO E VOLUME? SÃO COISAS BEM DIFERENTES, CERTO?

Bruno: Volume é inversamente proporcional à definição. Quanto mais definido, menos volume. Não tem para onde correr! Se a pessoa tem o cabelo volumoso por natureza, mesmo definido ele continua encorpado. Mas se ela quer volume e não tem, você tem que deixá-lo volumoso e aí é preciso escolher. Não dá para ter os dois.

Outro ponto importante é o frizz. Quem fez dele um vilão? Cabelo cacheado não tem regra, não existe um tipo de cacho só na cabeça. Por isso, eles não precisam ficar iguais. É como sair de uma ditadura e entrar em outra. Para que eliminar o frizz, afinal? Ele não é feio, faz parte.

FD: SOBRE AS TENDÊNCIAS DE CORTE, QUAL VOCÊ ACHA QUE É O ESTILO MAIS INDICADO, SEJA PARA CACHEADOS OU CRESPOS?
Bruno: Depois que a pessoa descobre o próprio cabelo, rola um medo, porque, sem o liso, os fios ficam com mais volume, então predominam os cortes mais tradicionais, mais retos, sem muita assimetria. À medida que ela vai se acostumando, gostando do volume, o corte começa a mudar. Um pouco mais de camadas, um pouco mais de volume. E depois, ela começa a investir mais e mais.

Acho que não existe esse ou aquele corte, é mais da pessoa se olhar no espelho e gostar. A tendência vai muito do momento que a pessoa está vivendo. Se ela quer mudar, a gente vai direcionando o corte para o que ela está a fim.

FD: QUAL É A DICA QUE VOCÊ DARIA PARA AS MENINAS QUE ESTÃO EM TRANSIÇÃO OU QUEREM PASSAR PELO PROCESSO?

Bruno: Trabalho há 8 anos com transição capilar e a dica que eu dou é a estatística que tenho: nesse tempo todo, nenhuma mulher chegou para mim e disse que se arrependeu da transição. O cabelo natural é incomparável, mais saudável, mais brilhoso e vale a pena lutar por ele.

E se cria um amor tão grande por esse cabelo que ele vira um protegido, um talismã. Não é qualquer tratamento que vai ser feito, nem qualquer produto que vai ser usado. Eu conheço meninas que não vão mais ao salão por não confiarem nos profissionais. O cabelo vale muito mais!

E também tem as fases, que fiz questão de registrar na parede do salão. Primeiro a pessoa decide entrar em transição. Depois vem o big chop, que pode ser rápido ou não, mas uma hora a química sai. Em seguida, a aceitação de que seu cabelo está natural. Tudo é novo, tudo é diferente, as pessoas te olham diferente. Quando você aceita, vem a liberdade. Você não precisa da opinião de ninguém para escolher o que é bom. E a fase final são os cachos, essa palavra engloba tudo. O mais legal é que ninguém tem a mesma quantidade, o mesmo cabelo, o mesmo caimento. Então você passa a ser única

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